A DEMOCRACIA MORRE NA ESCURIDÃO

Contratado para combater a Covid-19, ex-comissionado da SEMUSA relata assédio eleitoral durante as eleições: “Dava 13:30h a gente tinha que sair da prefeitura e ir para sol quente”

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O Fronteira 364 conversou com um ex-comissionado, recém-demitido pela prefeitura de Ji-Paraná, que diz ter vivenciado na pele assédios eleitorais durante as campanhas deste ano de 2022, durante seus horários de trabalho.

O prefeito de Ji-Paraná, Isaú Raimundo da Fonseca, foi muito criticado por ter mobilizado a estrutura pública do município em prol da eleição do seu filho, o vereador e presidente da Câmara Municipal, Negão do Isaú, que não conseguiu se eleger deputado estadual por Rondônia.

Durante as eleições, muitos funcionários denunciaram pressões de seus superiores para que trabalhassem ativamente na campanha do filho do prefeito, indo às ruas e fazendo publicações em redes sociais.

Uma das vítimas dos assédios conversou com o colunista Leone Oliveira e, por razões de segurança, mesmo a contragosto da testemunha, manteremos sua identidade sob sigilo e passaremos a chamá-la de “Pedro”.

Pedro é ji-paranaense, nasceu em 1993 e está cursando o quarto período de enfermagem na Universidade Paulista (UNIP), faculdade na qual ingressou no início de 2021 com bolsa de 50%.

De acordo com Pedro – e conforme foi apurado no portal transparência -, ele foi contratado em abril do ano passado para combater a Covid-19, vírus que se disseminou pelo mundo no início de 2020 e, rapidamente, elevou-se ao status de “pandemia”.

Fui contratado em 2021, abril, para o centro de covid, na vigilância epidemiológica, onde fui responsável por quase um ano pelo covid, naquele auge da pandemia”, afirmou.

“ASSÉDIO ERA O QUE MAIS TINHA”

Pedro relata que os servidores sofriam assédios eleitorais em horários de trabalho, sendo pressionados a atuarem ativamente na campanha do filho do prefeito, Negão do Isaú. Na prática, os funcionários eram obrigados a trabalharem em dupla jornada, uma em seus respectivos postos para os quais eram pagos, e outra na campanha do filho do prefeito.

Assédio? era o que mais tinha. [Pessoas que] trabalhavam há anos em alguma unidade de saúde, ou hospital, upa, que não concordavam em apoiar o candidato filho do prefeito, né, o Negão, essas pessoas eram ameaçadas de tirar da folha delas qualquer tipo de pagamento a mais, por direito delas, principalmente na classe dos efetivos”, alegou Pedro,

“NA SEMUSA O TREM ERA MAIS FEIO”

Pedro relata ainda que, após sua nomeação para diretor de divisão na Secretaria Municipal de Saúde, a situação era mais degradante, pois, a secretária colocava sua liderança para vigiar os funcionários e saber o que os mesmos falavam durante o trabalho. Além disse, o mesmo relata que sofria pressões para não divulgar os números exatos de óbitos em decorrência da Covid-19.

Na SEMUSA, na Secretaria de Saúde, ai o trem era mais feio. Temos uma secretária […] colocando a liderança dela para estar vigiando, onde a gente ia tinha alguém vigiando a gente; querendo saber o que foi falado, o que foi informado. Durante a Covid, também, senti muita pressão para não estar soltando na mídia a quantidade de óbitos que estavam tendo, diários […]”, disse Pedro.

Pedro afirma que anunciou que iria sair do trabalho, pois gostava de trabalhar de maneira correta e não da forma que vinha sendo feito. Também disse que “várias ações para a saúde do trabalhador eu desenvolvi, mas a própria secretária de saúde barrava, ela só queria que nós fizéssemos ações fictícias, bater foto, essas coisas, mas, no grosso mesmo, não tinha. Dinheiro da vigilância e saúde, recursos que vinham para setores, eram desviados para outros setores, para outras funções”.

De acordo com o testemunho, por não querer obedecer ordens eleitoreiras, Pedro foi mandado para a prefeitura, onde tinha que ficar dentro do gabinete do vice-prefeito fazendo o cadastro de pessoas que foram contratadas para, teoricamente, trabalharem na prefeitura, mas que na prática, trabalhavam na campanha do Negão do Isaú.

Essas contratações, as quais Pedro se refere, foram feitas posterior a uma lei que o prefeito mandou para a Câmara que criava mais de 190 cargos comissionados, em pleno período eleitoral. Pedro afirma que as indicações para os cargos foram feitas por vereadores da base aliada do prefeito.

Ali dentro daquele gabinete, durante a campanha, foi feito cadastro, foi feito contratações de pessoas indicadas somente da base aliada, que iriam apoiar o negão”, alegou.

O mesmo continua dizendo que, aqueles funcionários que eram contra, eram remanejados para outros lugares e eram colocados pessoas “estratégicas” para comandarem a linha de frente da campanha do Negão; também, “por medo”, o mesmo afirma que trocaram sua portaria e o colocaram na condição de “assessor nível IV”, sabendo de seu histórico de insubordinação aos interesses eleitoreiros de seus superiores.

Não me importei, esperei dar o período das minhas férias, e foi onde anunciei que iria sair da gestão se continuasse dessa forma. Conversaram, conversaram, conversaram, e eu falei então: ‘tudo bem, eu vou ficar’, só que eu não vou apoiar o negão, eu vou ficar neutro nessa campanha”, disse.

“DAVA 13:30h A GENTE TINHA QUE SAIR DA PREFEITURA E IR PARA SOL QUENTE”

Pedro relata que, ao dar 13:30h, os comissionados tinham que sair da prefeitura e ir para o sol quente trabalhar na campanha do Negão do Isaú; tinha que enviar lista de quem ia para as ruas; lista de reuniões; lista de quantas pessoas “você já tinha ganhado naquela semana”; e que também, a pedido da secretaria de administração, haviam pessoas que acompanhavam os comissionados, para verem se os mesmos estavam cumprindo com as ordens, e ameaçando de demissão, afirmando que, se o filho do prefeito não ganhasse, todos seriam mandados embora.

Porque, assim, dava 13h30 a gente tinha que sair da prefeitura e ir para sol quente; tinha que enviar lista de quem ia; lista de reuniões; lista de quantas pessoas você já tinha ganhado naquela semana; Tinha pessoas, a pedido da secretaria de administração, para poder acompanhar essas pessoas pedindo essas listas, forçando essas pessoas, ameaçando, falando que se o fulano, o atual presidente da câmara, não ganhasse, que nós iriamos ser tudo mandados embora”, afirmou.

Pedro disse ainda que saiu de férias no dia 3 de setembro, mas foi chamado para trabalhar – durante as férias – na campanha do Negão do Isaú, convite que acabou recusando.

Eu não concordei, ai eles esperaram as férias acabar e dia 19 lançou a exoneração {…} dai o fim foi esse, né, quando eu disse no período de férias que não iria trabalhar na campanha, não iria trabalhar e nem apoiar a questão do Negão, como deputado, né, eu ia ficar neutro, ai foi onde eles falaram que eu iria ser exonerado e pronto, me mandaram embora”, finalizou.

CAMPANHA DO NEGÃO FOI MARCADA POR CONTROVÉRSIAS

A campanha do filho do prefeito, Negão do Isaú, foi marcada por controvérsias e denúncias.

O vereador Brunno Carvalho (Solidariedade), no dia 22 de setembro, concedeu uma entrevista ao Fronteira 364, no qual relatava haver sido ameaçado por supostos capangas do Negão, no bairro Jorge Teixeira.

Conforme informações passadas ao Fronteira, a equipe do Negão do Isaú Retiravam adesivos de candidatos adversários dos muros e portões das casas alheias, sem a devida permissão do proprietário.

“ARRANCAVAM OS ADESIVOS”

O vereador Brunno afirmou que estava fazendo visitas pelo bairro Jorge Teixeira e, a certa altura, se deparou com uma equipe de apoiadores do Negão Filho do Isaú.  Carvalho, suspeitando de que algo de errado pudesse acontecer, resolveu acompanhar a caminhada dos apoiadores e se deparou com cenas de crime eleitoral. Conforme o relato do próprio vereador, a equipe do Negão “estavam retirando as placas [dos candidatos adversários]”.

“Eu decidi acompanhar a caminhada [deles], eles estavam retirando as placas que eu coloquei na casa dos moradores que eu conheço, com a autorização do morador, eles iam lá e retiravam as placas {…} arrancavam os adesivos, isso ai não pode acontecer”, afirmou o vereador.

Carvalho também afirmou que a equipe do Negão “saia colocando adesivo em tudo que é muro” sem autorização do proprietário da casa.

“A equipe dele [Negão] saia colocando adesivo em tudo que é muro, se entendeu, não pega nem autorização do morador, já sai pregando adesivo no bairro; se der uma volta hoje no bairro o que mais tem é adesivo do Negão, em tudo que é muro, sem nenhuma autorização do responsável”, completo Carvalho.

O vereador também disse ter conversado com um dos moradores vitima do crime.

Foi tirado adesivo do deputado Laerte, aonde que eu ia atrás e falava para o morador, tinha morador que estava sentado em frente de casa e eu falava: ‘viu como é que funciona a velha política? isso não pode acontecer’”, alegou.   

“PARARAM A HILUX DE TRAVESSADO E FIZERAM UMA RODA EM VOLTA DE MIM”

O vereador Brunno Carvalho também afirma que foi ameaçado de agressão por supostos capangas do Negão do Isaú que estava encarregado de distribuir água aos demais membros do bando. Conforme o relato, a equipe que estava em uma caminhoneta, parou o veiculo bruscamente de travessado na rua, saiu de seu interior e cercou o vereador, que quase chegou a ser agredido, mas foi defendido por um guarda que estava no local.

Veio uma equipe que estava distribuindo água para aqueles que estavam na caminhada, esse pessoal vieram e me fecharam na rua, pararam a Hilux de travessado e fizeram uma roda em volta de minha pessoa e começou a falar que eu estava atrapalhando e eu falei, não, eu estou indo atrás e vendo onde é que estão arrancando os adesivos do Laerte, porque onde eu passei ali atrás arrancaram vários”, alegou o Brunno.

Simplesmente, um deles que estava na caminhoneta, ele veio para querer me agredir, porém, o Igor, que é o guarda do Adão Lamota, ele não deixou o cara me agredir; ele falou que ia resolver de outro jeito; como assim de outro jeito? eu sou vereador eu ando onde eu quero, ainda mais sendo morador do bairro Jorge Teixeira”, finalizou o vereador.

BOLETIM DE OCORRÊNCIA 

Também foi enviado pelo vereador o boletim de ocorrência registrado em 21/09/22, às 18h 41min, na UNISP de Ji-Paraná (1° DP), logo após ter sido cercado e ameaçado pelo bando do Negão. Abaixo está anexado a imagem do documento do B.O.

ADVOGADO DIZ QUE É CRIME ELEITORAL

Fronteira entrou em contato com um advogado especialista em direito eleitoral. O mesmo afirmou que as  supostas práticas feitas pelos apoiadores do candidato à Deputado Estadual, Negão Filho do Isaú, configura crime eleitoral. Luiz Felipe da Silva Andrade explicou que os fatos se enquadram em inutilização da propaganda, que fere o artigo 332 do Código Eleitoral. A pena para esse tipo de crime é de detenção de até seis meses e pagamento de 30 a 60 dias-multa.

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Junior moradas
Junior moradas
2 anos atrás

Engraçado quando ele bateu bêbado em carro que não se aguentadava em pé , em um ncarro de um empresário de ji-paraná do ramo de lanchonetes inclusive muito conhecido ele foi socorrido por uma pessoa que sempre esteve ao lado dele ajudou e apoio que no fim das contas ele por dinheiro a traiu.

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