– por Leone Oliveira.
Antes de irmos ao que importa, peço desculpas aos honrosos leitores pela minha ausência por tanto tempo neste pequeno espaço. Estive dedicado às amenidades do cotidiano.
Nunca atrai tanto interesse de alguns leitores quanto no período de minha ausência. É um fato preocupante, que põe em risco o prosseguimento de minha carreira. Minha coluna tem mais repercussão quando não é publicada do que quando é. Sou um fracasso.
Muitos me mandaram mensagem perguntando o que havia acontecido comigo. “Cadê você? Foi sequestrado?”; “Está em algum cativeiro?”. “Leone, responde, cara pálida!”. É como falei: me limitei às ditas amenidades e estive a terminar alguns afazeres. Agora que saciei a curiosidade de vocês, dou por encerrado o assunto e passo à reflexão de natal, que é o que realmente importa neste texto.
O grande escritor Charles Dickens, a quem ultimamente devo os momentos de descontração, em sua primorosa obra Um Conto de Natal, uma das mais difundidas na literatura ocidental, narra a história de Ebenezer Scrooge, um velho que é tão rico quanto arrogante.
Scrooge era um homem muito bem sucedido e de negócios em Londres, absolutamente solitário e que não demonstrava um pingo de bons sentimentos e compaixão para os outros. Sempre se preocupou apenas com seus lucros.
Numa época fria de natal, algumas pessoas passavam pelo seu escritório para lhe desejar Feliz Natal, mas Scrooge se remoía de raiva e não poupava arrogância, dando respostas ríspidas. “Que motivos você tem para estar feliz, sendo pobre desse jeito?”, disse Scrooge para um sobrinho que vinha lhe visitar, ao que lhe foi respondido: “Se for por isso, que motivos tem o senhor para estar tão mal-humorado, que razões para estar tão ranzinza, sendo rico desse jeito?”
Absolutamente ninguém da cidade gostava de Scrooge, mas seu jeito arrogante iria mudar e tudo começou quando ele recebeu, naquele frio natalino, a visita do fantasma Marley, seu ex-sócio, morto há algum tempo. Marley aparece de maneira horrenda, cheio de correntes presas em sua cintura, com um recado: enquanto vivo, ele tinha sido exatamente como Scrooge e sua punição estava sendo vagar por toda a eternidade carregando essas correntes, mas ainda havia esperança para Scrooge. Naquela noite, três Fantasmas do Natal iriam visitá-lo e levá-lo para refletir sobre seus atos.
O FANTASMA DO NATAL PASSADO – O primeiro fantasma se chama Fantasma dos Natais Passados e que leva Scrooge a relembrar vários momentos de seu passado e pessoas que eram importantes para ele. Num desses momentos, Scrooge se vê ao lado de uma jovem loira com quem havia iniciado um relacionamento ainda quando pobre, mas que agora estava em vias de separação, quando a jovem viu o amor do cônjuge se esfriar e dar espaço a ganância e ao dinheiro. Scrooge ficou ainda mais desesperado quando o espirito lhe transportou para outra cena do passado: aquela jovem, que havia se separado de Scrooge, constituiu uma nova família e agora comemorava o Natal em sua casa, junto aos filhos e marido, enquanto ele estava isolado em seu escritório, sempre buscado aquilo que norteava sua vida: o lucro.
O FANTASMA DO NATAL PRESENTE – O Fantasma do Natal Presente leva Scrooge pelas ruas e casas da cidade, mostrando a felicidade das pessoas diante do Natal. Também transporta Scrooge para a casa de seu único funcionário, para a casa de seus parentes e expõe como todos comemoravam fervorosamente aquela data, vestindo as melhores roupas, enfeitando casas e comércios, e apreciando saborosos banquetes junto as pessoas que amavam. Mas Scrooge continuava isolado e odiado por todos, em razão de sua arrogância e rispidez.
O FANTASMA DO NATAL FUTURO – O Fantasma do Natal Futuro, por óbvio, leva Scrooge a conhecer o seu futuro, o que é absolutamente arrasador para aquele homem de negócios. Scrooge se vê morto, em uma das milhares de lápides que haviam no cemitério. Quando de sua morte, não houve uma vivalma que tenha falado algo em seu favor. Nenhum elogio. Scrooge era odiado por todos e sua partida suava quase como um alívio às pessoas que lhe conheciam. Ao ver todas aquelas cenas de seu futuro, Scrooge entra em desespero.
O APRENDIZADO DE SCROOGE – Com todas as viagens que fez com cada um dos fantasmas, para o passado, presente e futuro, Scrooge percebe o quanto egoísta e ganancioso era, perdendo amigos e sendo odiado por todos, vivendo uma vida isolada, buscando lucro acima de tudo e em detrimento da desgraça alheia. Após tanto refletir, a partir daquele Natal, Scrooge passa a ser diferente. Sua mudança se dá menos pelo medo de acabar como o antigo sócio, condenado a vagar eternamente envolto de pesadas correntes, e mais pela vontade em reatar os laços com familiares e amigos, buscando ser uma pessoa melhor.
Neste natal que se avizinha, meu estimável leitor, convido você a viajar mentalmente para o seu passado, presente e futuro, tal como fizera Scrooge, analisando a pessoa que foi durante os últimos anos, a pessoa que está sendo e a pessoa que há de ser. Ao final da reflexão, saiba que há tempo para mudar e evitar que seu eu do futuro tome um caminho que eventualmente não seja agradável.
“Nunca mais Scrooge encontrou os espíritos, mas desde aquele dia passou a viver sob o Princípio da Generosidade Total. E todos concordavam em dizer que ali estava um homem que sabia celebrar o Natal e manter seu espírito vivo o ano todo – se é que algum homem consegue isso. Que o mesmo possa ser dito de cada um de nós. E, como dizia o pequeno Tim, que Deus abençoe cada um de nós!”
É como o livro termina.