por FERNANDO PEREIRA, Jornalista.
Neste domingo, assistimos a uma eleição atípica em Ji-Paraná, onde um político que se destacou por suas realizações, o prefeito Isaú Fonseca, perdeu a disputa pela reeleição. Apesar de seu legado, o eleitorado decidiu enviar um recado claro, elegendo Affonso Cândido com 64,27% dos votos, contra 34,56% de Isaú. Essa escolha, que contraria a realidade das realizações apresentadas, impõe sobre o novo prefeito um peso simbólico significativo. O resultado reflete um desejo de mudança que vai além das realizações passadas, exigindo que Affonso compreenda e honre o espírito da expressiva votação que recebeu.
A vontade coletiva e sua interpretação
Cada voto depositado nas urnas é um fragmento da voz coletiva da sociedade. Segundo Hannah Arendt, “a ação é o que nos conecta a outros e a nós mesmos”. Assim, o eleitor não apenas escolhe um líder, mas entrega a ele a responsabilidade de interpretar e materializar os anseios, medos e esperanças de uma coletividade. O novo prefeito, ao receber essa confiança, assume um compromisso ético e moral de honrar essa vontade, o que significa compreender a profundidade dos sentimentos que sustentaram a sua vitória.
A responsabilidade do eleito
Jean-Paul Sartre nos lembra que “o homem está condenado a ser livre”. Essa liberdade implica uma escolha consciente, mas também um peso que recai sobre aqueles que são escolhidos. Affonso Cândido não é um mero representante; ele é agora o guardião das aspirações populares. Trair essa vontade significa não apenas falhar em suas promessas, mas também deslegitimar o ato de votar, corroendo a própria essência da democracia.
Platão, em seus diálogos, enfatiza que a justiça e a sabedoria devem guiar aqueles que detêm o poder. Um líder que ignora os votos e os sentimentos que o levaram ao cargo está condenando sua administração ao fracasso. Essa traição não é apenas uma falta de caráter; é uma negação da estrutura democrática que o elevou.
O voto e a dimensão histórica
O peso do voto também é histórico. O eleitor, ao escolher, participa de um legado que se estende além do presente. A citação de Edmund Burke, “aqueles que não conhecem a história estão condenados a repeti-la”, ilustra bem como decisões tomadas hoje reverberarão no futuro. Affonso deve ter consciência de que sua atuação será um reflexo não apenas de seu compromisso, mas da continuidade ou ruptura das esperanças depositadas no processo eleitoral.
A necessidade de empatia e diálogo
A responsabilidade do eleito não se limita a respeitar os votos, mas também a fomentar um diálogo contínuo com a população. A capacidade de ouvir e interpretar as vozes que o trouxeram ao poder é fundamental. Simone de Beauvoir [não simpatizo com a autora, mas isso não me impede de usar uma frase dela que ajuda a ilustrar uma reflexão importante] nos alerta que “a liberdade de um está ligada à liberdade de todos”. Affonso deve ser um facilitador dessa liberdade, garantindo que sua gestão represente efetivamente a pluralidade de opiniões e necessidades.
Conclusão
Assim, o ato de votar é um profundo gesto filosófico e moral que carrega um peso significativo. Affonso Cândido não é apenas o destinatário de votos; ele se torna o responsável por interpretar e honrar as esperanças que esses votos representam. A verdadeira essência da democracia reside na capacidade do eleito de compreender o espírito do seu mandato e de agir de forma a não trair a vontade popular.
O resultado da eleição de Ji-Paraná deve servir como um lembrete contundente: o eleitorado expressou um desejo de mudança que transcende realizações passadas. A responsabilidade que recai sobre Affonso é, portanto, monumental. Ele deve reconhecer a profundidade desse apoio e trabalhar incansavelmente para atender às expectativas e anseios que levaram à sua vitória. O sucesso de sua gestão dependerá da sua capacidade de dialogar, ouvir e se manter fiel ao espírito democrático que o conduziu ao cargo. O futuro de Ji-Paraná, agora nas mãos de seu novo prefeito, clama por uma liderança que compreenda e respeite o peso de cada voto.
por FERNANDO PEREIRA, Jornalista.