BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro deixou o Brasil nesta sexta-feira, dia 30, com destino a Orlando, nos Estados Unidos, dois dias antes da posse do presidente eleito e diplomado Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Adiada ao longo da semana, a decolagem ocorreu às 14h02, com ligeiro atraso ao plano de voo da aeronave presidencial, que previa início da viagem às 13h45. O Airbus VC-1 da Força Aérea Brasileira vai pousar por volta das 20h10, após voo direto, no Aeroporto Internacional de Orlando.
O comboio presidencial saiu do Palácio da Alvorada de forma alternativa, sem passar no portão principal, em frente ao cercadinho de apoiadores, que estava vazio, e ao espaço destinado à imprensa.
Assim que o presidente cruzar o espaço aéreo brasileiro, o vice-presidente Hamilton Mourão entra em exercício por ao menos um dia.
Primeiro presidente no cargo a disputar e perder a reeleição, Bolsonaro também será o primeiro a não passar a faixa a um sucessor eleito pelas urnas desde a redemocratização. Uma equipe do Palácio do Planalto, com equipe de apoio e segurança, chegou há dois dias na cidade da Flórida. A previsão é que o presidente passe ao menos janeiro hospedado em um condomínio-resort fechado.
Oficialmente, a Presidência da República não se pronunciou sobre a viagem. Servidores militares do Gabinete de Segurança Institucional foram deslocados a Miami, cidade vizinha na Flórida, assim como a equipe de assessores que acompanhará Bolsonaro como ex-presidente.
A Secretaria Geral da Presidência publicou no Diário Oficial da União aval para afastamento do País dos “assessores de ex-presidente” indicados por Bolsonaro. São eles: Sérgio Rocha Cordeiro, Marcelo da Costa Câmara, Max Guilherme Machado de Moura, Osmar Crivelatti e Ricardo Dias dos Santos.
A equipe de apoio com cinco servidores pagos pela União se revezará nos EUA entre 1º e 30 de janeiro, durante “agenda internacional” de Bolsonaro em Miami.
Pronunciamento final
Antes da decolagem, Bolsonaro fez, sozinho, um pronunciamento informal nas redes sociais. Foi a última “live” do mandato que se encerra. Apesar de ter sido aconselhado a não falar, pelo risco jurídico de incentivar os manifestantes golpistas que o apoiam, ou desapontá-los, o presidente preferiu ouvir conselhos políticos que sugeriam um aceno a sua base. Na ocasião, ele chorou, reconheceu o clima de velório e afirmou que foi muito difícil ficar praticamente dois meses calado, após a derrota para Lula.
Bolsonaro condenou a tentativa de explodir uma bomba no Aeroporto de Brasília, segundo a polícia promovida por bolsonaristas que frequentavam o acampamento pró-golpe de Estado, armado em frente ao Quartel-General do Exército. O presidente disse que “nada justifica” um “ato terrorista”. “Massificam o cara como bolsonarista o tempo todo”, reclamou o presidente. No entanto, o próprio autor do atentado, depois de preso, declarou em depoimento ser seguidor de Bolsonaro.
“Não tem tudo ou nada. Não vamos achar que o mundo vai acabar dia 1º de janeiro”, disse Bolsonaro, que apresentou ações e entregas do mandato e pediu o oposição a Lula. O presidente disse que manifestações de seus apoiadores nos quartéis são justificadas por entendimento de que a Justiça foi parcial nas eleições. Segundo ele, os protestos “ordeiros” devem ser respeitados. Bolsonaro negou ter participado da mobilização. Argumentou que só apresentou questionamentos à eleição de Lula dentro da legalidade. “Fiz a minha parte, dentro das quatro linhas (da Constituição)”, afirmou, indicando que não teve apoio no Judiciário e no Congresso.
Como previam conselheiros do presidente, o pronunciamento foi mal recebido na sua base. Surgiram uma série de manifestações de desaprovação nas redes sociais. Do lado de fora do Palácio da Alvorada, um pequeno grupo de apoiadores que acompanhava a transmissão – alguns ajoelhados – se dispersou. Um homem xingou Bolsonaro e disse que ele era “covarde”. Em seguida, petistas apareceram e fizeram o L com as mãos, um sinal de apoio a Luiz Inácio Lula da Silva, presidente que será empossado no domingo.
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