- Por Natalino Ferreira Soarez
No gabinete do Prefeito, Isau Fonseca, nervoso fala com sua equipe de Secretários e colaboradores… Ocasião em que se tratava do planejamento da campanha para Deputado Estadual do Negão, filho do Isaú.
Agita as mãos e olhando nos olhos de cada um ameaça: “Ninguém é insubstituível”!
A frase parece ecoar nas paredes do gabinete em meio ao silêncio.
Os Secretários se entreolham, alguns abaixam a cabeça.
De repente, levanto meu braço e o Prefeito se prepara para triturar meu cérebro, como de costume.
– Alguma pergunta?
– Tenho sim.
E Beethoven?
– Como? – Me encara o Chefe do Executivo confuso.
– O senhor disse que ninguém é insubstituível e quem substituiu Beethoven?
Silêncio…
Quando ninguém mais falou eu disse:
– Ouvi essa história esses dias, contada por um colega jornalista que conheço e achei muito pertinente falar sobre isso. Afinal fala-se muito em descobrir talentos, mas no fundo, o Senhor continua achando que os profissionais são peças dentro do grupo e que, quando sai um, é só encontrar outro para pôr no lugar. Então, pergunto: quem substituiu Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna? Ghandi? Frank Sinatra? Garrincha? Santos Dumont? Monteiro Lobato? Elvis Presley? Os Beatles? Jorge Amado? Pelé? Paul Newman? Tiger Woods? Albert Einstein? Picasso? Zico?
Quando fiz uma pausa e continuei:
– Todos esses talentos que marcaram a história fazendo o que gostam e o que sabem. E, portanto, mostraram que são sim, insubstituíveis. Não estaria na hora do Senhor rever seus conceitos e começar a pensar em como trabalhar melhor sua equipe, em focar no brilho de seus pontos fortes e utilizar energia em reparar seus erros ou deficiências?
Nova pausa:
– Acredito que ninguém se lembra e nem quer saber se BEETHOVEN era SURDO, se PICASSO era INSTÁVEL, CAYMMI PREGUIÇOSO, KENNEDY EGOCÊNTRICO, ELVIS PARANÓICO… O que queremos é sentir o prazer produzido pelas sinfonias, obras de arte, discursos memoráveis e melodias inesquecíveis, resultado de seus talentos. Mas cabe ao Senhor, mudar o olhar sobre a equipe e voltar seus esforços, em descobrir os PONTOS FORTES DE CADA MEMBRO. Fazer brilhar o talento de cada um em prol do sucesso do seu projeto.
Eu continuava, cada vez mais motivado!
– Se o amigo Isaú, ainda está focado em ‘melhorar as fraquezas’ da equipe, corre o risco de ser aquele tipo de técnico de futebol, que barraria o Garrincha por ter as pernas tortas, ou Albert Einstein por ter notas baixas na escola, ou Beethoven por ser surdo. E na gestão dele o mundo teria PERDIDO todos esses talentos. Nunca me esqueço quando o Zacarias dos Trapalhões ‘foi para outra morada’… Dedé, ao iniciar o programa seguinte, entrou em cena e falou mais ou menos assim: “Estamos todos muito tristes com a ‘partida’ de nosso irmão Zacarias… e hoje, para substituí-lo, chamamos: …NINGUÉM, pois nosso Zaca é insubstituível!
O silêncio foi total!
Conclusão: HORAS DEPOIS EU ESTAVA EXONERADO.
Como resultado da campanha, Negão perde a eleição.
- Por Natalino Ferreira Soares, Jornalista e Tecnólogo em Marketing
Parabéns por quebrar o silêncio, Natalino!