Alexandre Silveira (PSD-MG) era suplente do senador Antonio Anastasia (PSD-MG) quando foi espionado por detetives. À época do ocorrido, havia uma grande negociação entre políticos para a indicação de um nome ao cargo de ministro do Tribunal de contas da União (TCU). Em 6 de setembro do ano passado, Silveira estava na Bahia, local em que tem uma propriedade e é acostumado a viajar para lá nos fins de semana. Não tinha nem ideia que sua vida estava sendo vigiada passo a passo. Não só a dele, mas também a da ministra-chefe da secretaria de governo (Segov), deputada Flávia Arruda. A ministra era alvo do mesmo monitoramento e, por quatro meses, foi acompanhada de perto na sua rotina em seu gabinete no Palácio do Planalto, foi rastreada e teve seu sigilo telefônico violado, com a intimidade de pessoas importantes da republica expostos.
Todas as informações obtidas com os meses de monitoramento estão registrados em um dossiê sem a assinatura de ninguém e que circulou em gabinetes de Brasília. O material trás alume que o objetivo era saber por onde eles andavam, com quem falavam e os trajetos que faziam. O material diz que o monitoramento correu entre 1° de setembro e 31 de dezembro de 2021, ao todo quatro longos meses. Pelo teor do documento, percebe-se que o alvo principal era Flávia Arruda, da qual há registro que em 7 de setembro, às 17h07, a ministra recebeu uma ligação de um deputado estadual. Mesmo a chamada não sendo completada, a simples conexão já permitiu aos criminosos a obtenção da localização da vítima, que estava na praia do forte, na Bahia. O rastreamento continua em suas viagens de São Paulo e Minas Gerais.
Conforme veiculado pela Veja, a espionagem se deu em um momento de disputa política em Brasília. Flávia que é deputada de primeiro mandato, ganhou do governo a função de articuladora política e o trabalho de ajustar os interesses de parlamentares ao cronograma de liberação de verbas federais. Não demorou muita para a mesma colecionar inimigos que achavam que ela beneficiava apenas aliados. Em 2021 também havia uma disputa no Senado por uma vaga no Tribunal de Contas da União. Para não causar atrito, o governo havia feito um pacto com vários partidos para apoiar a senadora Katia Abreu (PP-TO). Tudo estava pacificado, até que, para a surpresa de todos, o eleito é Antonio Anastasia, com amplo apoio de senadores. Flávia foi tida como traidora, uma vez que veio à tona o fato de ela ter liberado dezenas de milhões de reais em emendas para os senadores que se comprometessem em votar em Anastasia. Pelo o que se especula, Flávia teria agido junto com Alexandre Silveira, que com a ida do Senador Anastasia ao TCU, foi promovido de suplente a titular no Senado.
Como mostra o relatório, Alexandre Silveira também teve suas ligações telefônicas monitoradas e seus deslocamentos igualmente acompanhados. Em 9 de novembro, por exemplo, os criminosos registraram que Silveira estava no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP), às 12h08. De lá, foi para Portugal para participar de um fórum jurídico que, entre o rol de palestrantes, estava justamente Flávia Arruda. A noite, os criminosos também registraram que Flávia esteve no aeroporto de Guarulhos, o que pode ser confirmado com um telefone de 12 segundos entre ela e uma colega senadora captado às 22h26. Conforme nossa legislação expõe, qualquer quebra de sigilo telefônico só pode ser feita com determinação judicial, dentro de um inquérito que investiga supostos crimes. Na legislação é dito que configura crime “realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar segredo da justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei”.
