Desde a segunda grande guerra da primeira metade do século XX, um evento de importância global, com resultados tão profundos, não fora visto aos olhos do mundo. O atual cenário do leste europeu, sob as sombras de um potência militar, a Rússia, é crítico e levanta grande temor. Na madrugada do dia 24 de fevereiro, o autocrata Vladimir Putin anuncia aquilo que o Serviço de Inteligência dos EUA à meses anunciara: uma ação militar Russa se iniciaria na Ucrânia. Para o Ocidente, guerra, para Putin, Operação Militar Especial. Como pretexto para a invasão, Vladimir diz querer a “desnazificação” do País vizinho.
Qual a relação entre Ucrânia e nazismo? Vejamos.
Na década de 1941, Adolf Hitler invadia parte do território da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, mais especificamente a região da Ucrânia. Em meio a invasão, parte da Ucrânia – que ansiava por independência – aderiu às tropas nazistas. Um dos ícones dessa época que reforçou o exército nazista foi o ucraniano Stepan Bandeira. Por trás dessa aproximação, havia a vaga esperança de o país se tornar livre das garras de Josef Stalin. A outra parte da população, contrária à Hitler, resistiu, e foram dizimados. Quase os dois milhões de Judeus dentro do território ucraniano foram assassinados. Mais tarde, vendo que o sonho por independência estava distante de se concretizar, a maioria dos ucranianos que avolumavam as tropas hitleristas pularam do barco, inclusive Stepan.
Com o fim da URSS na década de 90, a Ucrânia se torna independente e devolve todas as suas armas nucleares para a Rússia. No Memorando de Budapeste, em 5 de dezembro de 1994, Rússia, Estados Unidos e China assinaram o tratado reconhecendo a soberania e integridade nacional da Ucrânia, em troca, o arsenal nuclear presente em território ucraniano deveria ser devolvido. Adentrando o século XXI, vários países satélites da Rússia se tornaram membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), criado em 1949, um acordo militar entre dezenas de Países que tem como intuito a defesa mútua em caso de ataque à algum membro da aliança. Para além disso, houveram também adesões à União Europeia, bloco econômico criado em 1992 para cooperações em economia e política.
Diante de todo esse movimento geopolítico, a população ucraniana, majoritariamente, desejava a adesão do País à OTAN e UE. O ápice desse movimento pró-ocidente chegou em 2013, no governo de Viktor Yanukovych, apoiador de Moscou. Após virar as costas para a UE, a população, no primeiro momento formada por estudantes, tomaram as ruas em um protesto que ficou conhecido como Euromaidan, nome da praça na qual o mesmo teve início. Centenas de manifestantes morreram. Um ponto importante que deve ter destaque: muitos dos manifestantes seguravam bandeiras com a imagem de Stepan Bandeira, o mesmo que na década de 40 se juntou aos nazistas, temporariamente (é bom que fique claro), e posteriormente se virou contra os mesmos. Essa é a grande ligação história da Ucrânia com o abominável nazismo. No final do imbróglio, Viktor acabou se refugiando na Rússia e foi deposto. À 25 de maio de 2014, com novas eleições, é eleito como presidente o bilionário Petro Poroshenko, adepto ao ocidente. Petro, atendendo aos anseios da população, proibiu tudo que remetesse à antiga URSS, imagens, estátuas, nomes de ruas, etc.
Em retaliação, a Rússia, por meio de um plesbicito sem vergonha, anexa a região da Crimeia, estratégia geopolítica que lhe traria grandes benefícios. A Criméia é um território que dá acesso ao mar negro, que por sua vez deságua no Mediterrâneo. A Rússia, vale ressaltar, não tem acesso à mar que não seja congelado. Por outro lado, mais ao oleste da Ucrânia, duas regiões eram dominadas por separatistas pró-moscou: Donetsk e Lugansk. Todavia, o governo ucraniano ainda tinha o controle das duas regiões, mas, Putin, começava a mexer suas peças no tabuleiro para o próximo ataque. Com a desculpa de fazer exercícios militares, o Autocrata, desde o primeiro trimestre de 2021, enviava tropas para a fronteira com a Ucrânia, chegando à mais de 200mil soldados em Janeiro de 2022. A invasão era iminente. A grande pergunta era: Vladimir mobilizou todo esse batalhão para anexar apenas duas regiões da Ucrânia, Donetsk e Lugansk, ou todo o território? A resposta veio na madrugada do dia 24 de fevereiro.
Kremlin reconheceu as duas regiões separatistas como independentes, mas, a ordem dada ao exército era a invasão total do País. Em vídeo, o ditador russo diz em tom ameaçador: “quem interferir, sofrerá consequências nunca antes vistas na história”. Ou seja, uma ameaça nuclear clara. A Rússia acertou em invadir a Ucrânia? Obviamente não. É inverossímil que um País soberano e independente seja bombardeado por outro em pleno século XXI. Putin calculou bem as reações do ocidente? Muito menos. As respostas ocidentais foram rápidas e sufocantes. Dezenas de empresas fecharam as portas para a Rússia. Parte dos 600 bilhões de dólares em reservas internacionais que o País vinha guardando prevendo as sanções foram bloqueados. Empresas de transportes marítimos suspenderam seus trabalhos com a Rússia. O País virou uma pária no cenário global. Contudo, a Europa ainda sofre com a grande dependência que possui do gás e carvão russo. A Alemanha, por exemplo, estava para por em funcionamento o Lord Stream 2, o segundo gasoduto que vinha diretamente da Rússia. Como sanção, impediu seu funcionamento.
A Rússia sofreu um cancelamento global. A maioria dos Países condenaram a invasão. Até mesmo dentro da própria Rússia milhares de manifestantes foram às ruas condenando a guerra iniciada por Vladimir. Não vivendo em uma democracia, obviamente, centenas de milhares foram presos. No momento em que redijo esse texto o número já passa dos 10mil. De crianças à idosos, ninguém escapa. Putin está disposto a enjaular quem pôr os pés ao meio-fio. Num vídeo que circula nas redes sociais, Elena Osipova, de 77 anos, sobrevivente da segunda guerra mundial, é levada por policiais, em meio aos protestos no qual a mesma participava segurando duas placas pedindo paz. No dia 04 de março, parlamentares da Rússia aprovaram uma lei que impõe até 15 anos de prisão para aqueles que espalharem Fake News. No mundo democrático, Fake News são as noticiais falsas. No mundo paralelo de Putin, Fake News é a verdade.
Passados 14 dias de guerra, a grande pergunta é: a OTAN irá meter o dedo no meio desse vespeiro? Pouco provável. Nada além de sanções econômicas. E é o certo. Enviar tropas à Ucrânia para um embate direto com os russos seria o inicio de uma terceira grande guerra. E como diz o ditado: “posso até não saber como será travada a 3° guerra mundial, mas a 4° será com paus e pedras”. Outra pergunta: até quando a Ucrânia irá resistir e quais as reais pretensões de Putin? O povo Ucraniano é valente. Mesmo com a queda de Kiev, capital do País, Putin teria grandes dificuldades para controlar o território, pois a população não iria desistir e lutaria até o final. Com a economia russa indo ladeira à baixo, Vladimir já se mostra disposto a negociar um cessar fogo. Suas exigências: (1) desmilitarização da Ucrânia, (2) não adesão à União Europeia e (3) não adesão à OTAN. Propostas essas que o Presidente, Volodymyr Zelensky, não está disposto a acatar. Na mesa de negociações, o único acordo feito até o momento foi a abertura de corredores humanitários. Um cessar fogo momentâneo por parte dos dois polos, para a passagem de refugiados e suprimentos. Esse acordo, conforme diz o presidente ucraniano, não está sendo cumprido pelos russos. Centenas de civis estão sendo atacados e mortos cruelmente sob os olhares do mundo.
Qual o principal impacto de toda essa guerra para o Brasil?
No que tange o Brasil, somos dependentes dos fertilizantes oriundos da Rússia. 99% do nosso Nitrato de Amônio é oriundo da Rússia. 29% do nossos potássio, vem da Rússia e outros 19% da Bielorrússia. Apesar disso, nossa Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse que há outros países que podem exportar fertilizantes ao Brasil, como o Canadá. Ontem, 08 de março, saiu no Diário Oficial da União a autorização para a Ministra viajar no sábado, 12, ao Canadá para tratar sobre os fertilizantes. Caso o Brasil feche negócio com outros Países, será um grande suspiro para nosso economia. Outro ponto que merece destaque: a alta no preço dos barris de petróleo, ainda mais depois que os EUA anunciaram o fim das importações do petróleo russo. Nessa entoada, caminhamos para um inflação global.
Caro leitor, diante desse evento de maior importância do nosso século, haverá grandes mudanças no mundo, tanto na geopolítica, quanto na fonte energética mundial. Como a guerra entre Rússia e Ucrânia irá terminar? Para ser bem sincero, não sei. Mas, uma coisa é certa: a Organização do Tratado do Atlântico Norte e a União Europeia ficarão mais fortes do que já eram, e, por outro lado, a Rússia será jogada para a pré-globalização. Erro de cálculo do ganancioso, ditador, sanguinário e autocrata russo, Vladimir Putin, que entrará para a história como aquele que fortificou o ocidente e quebrou o próprio País.
Por Leone Oliveira.