por LEONE OLIVEIRA
Sem nada de relevante na política a falar, curvo-me sobre as folhas do caderno para discorrer sobre o espetinho do senhor Wilson. Certamente, esse é um assunto muito pertinente, sim senhor.
Todo mundo merecia ter um “Wilson do espetinho” na esquina de casa. Merecia sim senhor. Assim que soube de seu ponto, que me pus a comer e degustar pela primeira vez seu espeto, não deixei de marcar presença e me empanturrar de carne.
O lugar é bem simples. Fica numa esquina, sob uma cobertura de um ponto comercial; não há luz, a não ser aquela oriunda do próprio poste público. O espetinho pode ser comido só, ou acompanhado de arroz. O prato é de plástico e muito me lembra os tempos de escola. O valor do espeto é que me causa mais estupefação: são extraordinários seis reais. Isso mesmo. Seis reais.
Eu sei que você, caro leitor, deve estar pensando que estou fazendo propaganda para o senhor Wilson em troca de dinheiro (ou espetinhos). Eu entendo seu pensamento. Vivemos em um mundo em que tudo virou comprar ou vender. As pessoas estão sempre querendo lucrar com algo. Mas digo, caro leitor, digo que não estou aqui querendo lucrar com nada. É a mais pura verdade, caro leitor. Eu nem passei o endereço do senhor Wilson.
Virei freguês assíduo do senhor Wilson. Chego primeiro que ele no serviço, e sequer trabalho lá, só sou um simples cliente. Há dias que eu próprio acendo a churrasqueira. Sou capaz de devorar até cinco espetinhos em poucos minutos. Meu recorde é seis. Seis espetinhos eu devorei, certa feita. Seis espetinhos. Depende do dia.
Você deve estar se perguntando quem é o Wilson, eu sei. Irei saciar sua curiosidade, estimável leitor. Wilson Onório é um sujeito simples, baixinho, e de vocabulário típico de pessoas do sítio. Sempre vai ao trabalho com seu carro UNO vermelho, puxando uma carretinha com as mesas e cadeiras, além da própria churrasqueira e outros objetos.
Todos os dias Wilson se põe a fazer a mesma coisa no escuro espaço que há 16 anos ocupa. Arruma as mesas e cadeiras, arma a churrasqueira, espalha o carvão e, como uma mágica, em pouquíssimo tempo as labaredas de fogo estão vivas e fortes. É algo digno de muito aplauso. Eu próprio demoro meia hora para acender o fogo. Wilson é rápido. Há 16 anos ele acende fogo para assar os espetinhos. Sabe fazer aquilo como ninguém.
Certa feita, lembro-me que estava comendo um espetinho e ouvindo a conversa de Wilson com outro cliente. Wilson foi interpelado se tinha vontade de ficar rico. Ele respondeu que não, pois se ficasse rico não saberia mexer “com aquelas coisas”. Sabe-se lá o que Wilson queria dizer com “com aquelas coisas”. Será que ele se referia às burocracias do banco?! Sabe-se lá. Talvez a maior riqueza do senhor Wilson seja vender espetinhos. Ele é feliz assim. E me faz feliz também, pois quase todos os dias frequento seu ponto. Wilson do espetinho me faz feliz. E ele é feliz fazendo seus clientes felizes. Talvez essa seja a maior riqueza do Wilson do espetinho.
faltou relatar o melhor molho de pimenta que existe, e que a todo custo ja tentei comprar uma simploria garrafinha de 500ML do molho, e o mesmo me negou ! e disse que para provar, tem que ir lá… e assim sendo.. tambem bato ponto lá sempre que possivel.