por LEONE OLIVEIRA
Nesta semana comecei a ler Dom Quixote e estou mui feliz em saber que não sou o único que padece da mania de pôr em prática tudo o que lê nos livros de romance.
Louco não, quixotesco.
O personagem principal do livro, Dom Quixote, após ler dezenas de livros de romance de cavalaria, se autoproclama cavaleiro e se batiza de Dom Quixote de La Mancha, e sai todo atabalhoado pelo mundo afora para combater as injustiças, pondo em prática o que aprendeu nas obras literárias.
Em cada momento que vivencia, Quixote projeta aquilo que lera nos livros. Se passa por uma venda à beira da estrada, toma a venda por um grande castelo; se passa por moinhos de ventos, toma os moinhos como gigantes a serem combatidos.
Se algum infortuno lhe acontece, Quixote “busca refúgio no seu costumeiro remédio, que era pensar em alguma passagem dos livros”. A vida de Quixote era aplicar os ensinamentos dos livros de romances de cavalaria que lera, construindo e vivenciando sua realidade paralela.
Vemos que, em matéria de imaginações férteis, todos nós somos um pouco “quixotescos”. Eu próprio, às vezes, projeto na realidade aquilo que leio nos livros. Mas, caros leitores, não se trata apenas de aplicar o que se lê nos livros.
Quem nunca já cantou no banheiro de casa, sob o chuveiro, imaginando-se em um grande palco?! Quem nunca jogou bola com os colegas e começou a narrar a pelada como se fosse o Galvão Bueno e como se estivesse em um grande estádio de futebol?! Quem nunca, com fones de ouvido, imaginou-se cantar com voz perfeitamente igual aquela que se ouve?!
Quixote não é lá tão louco, e, em níveis diferentes, todos padecemos do mesmo mal que lhe acomete – e tenho medo de quem pensa o contrário, pois, se a pessoa se assegura de nunca ter criado sua própria realidade ou projetado na realidade suas imaginações, acho que, deveras, ela precisa mais de terapia do que aqueles com imaginações abundantes.
