A DEMOCRACIA MORRE NA ESCURIDÃO

Ele se prepara para voltar

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Na manhã de 20 de janeiro de 2020, Donald Trump deixava a Casa Branca rumo ao seu resort, na Flórida. Os acontecimentos de duas semanas antes, refletiriam no seu futuro dentro da política, pondo em cheque a promessa que fez antes de deixar o gramado da casa que lhe acomodou por quatro anos. Trump prometeu “voltar de alguma forma”. A sua desconfiança e ataque sistemático ao sistema eleitoral ensejou a invasão do capitólio, em 6 de janeiro de 2020, posterior à um discurso que fez para centenas de apoiadores. Um acontecimento histórico que hoje vem tendo grandes reflexos.

Trump é um economista, empresário bem-sucedido e ex-presidente da maior potência econômica, militar e política do mundo. Filho de um magnata norte-americano do ramo de imóveis, herdou habilidades do pai, tornando-se um visionário no mundo dos negócios, construindo um verdadeiro império. Publicou livros, foi ator em filmes e apresentador de programas na televisão americana. Atualmente, sua fortuna está estipulada em US 3 bilhões, 25% a mais do que tinha quando deixou a presidência. Um aumento de US 600 milhões, de acordo com a Forbes.

Com sucesso na carreira privada, o bilionário queria mais: ansiava pela Presidência da República. Trump sempre acompanhou de perto a política em seu País, mas nunca tinha assumido um cargo público. O mesmo já foi filiado ao Democrata em 1987; ao republicano de 1987 a 1999; Partido da Reforma de 1999 a 2001; Democrata de 2001 a 2009; e, por último, republicano novamente de 2009 até hoje. Nunca foi político, e seu primeiro cargo dentro deste novo mundo foi o mais alto que um político poderia chegar: Presidente da República dos Estados Unidos da América.

Quando anunciada a sua candidatura à Presidência, Trump sofreu uma rejeição enorme da mídia americana que lhe satirizava e desdenhava de sua capacidade de chegar à Casa Branca. Sua personalidade era forte, seu discurso era ríspido, e isso incomodava muita gente poderosa que detinha os meios de comunicação em massa, bem como os democratas, que fazia contraponto com um discurso mais ameno e politicamente correto. Do lado dos Democratas, Hillary Clinton – esposa do ex-presidente Hill Clinton – capitaneava a disputa pela cadeira presidencial, no entanto, tinha uma forte rejeição popular e acabou sendo derrotada pelo novato Republicano.

Ex-presidente Donald Trump

O improvável aconteceu: Donald Trump se torna o 45° Presidente da República dos Estados Unidos. Seus posicionamentos na presidência foram os mesmos que seu discurso em campanha sugeriam. O novo presidente era fortemente nacionalista, defendendo a indústria e economia norte-americana; era contrário à ascensão chinesa e ganhou destaque quando se referiu à Covid-19 como “Vírus chinês”; criticava a dependência que outros países tinham com os Estados Unidos, inclusive para suas seguranças por meio da OTAN; e era contra o acordo com o Irã, que previa uma ajuda econômica dos EUA em troca da retirada de armas nucleares que o País possuía. Durante seu governo, Trump também foi contrário ao isolamento social e recebeu muitas críticas por conta disso. Em um de seus discursos, o mesmo sugeriu o uso de desinfetante e produtos de limpeza para acabar com o vírus: “O desinfetante acaba [com o vírus] em um minuto, um minuto”, teria dito em um discurso no dia 23 de abril de 2020, último ano de seu mandato.

Donald Trump perde para Joe Biden.

Antes dos resultados das Urnas Eletrônicas, Trump já vinha pondo dúvidas sobre o sistema eleitoral na tentativa de deslegitimar o futuro mandatário e amenizar a derrota que era iminente. Posterior aos resultados das votações, Trump repetiu em dezembro de 2020 que houve fraude e que Biden era um “Presidente falso”. Boa parte de seus eleitores compraram a narrativa e iniciaram protestos contra o resultado das eleições.

Apoiadores de Trump antes de invadirem o capitólio, em Washington, nos EUA, em 06/01/2020

O ápice dos protestos se deu em 6 de janeiro de 2020. Depois do discurso de Donald Trump para seus apoiadores, em Washington, os mesmos foram em direção ao Capitólio (congresso americano) para impedir que a vitória de Joe Biden fosse selada. Na invasão ao Capitólio, cinco pessoas morreram e centenas ficaram feridas. Um verdadeiro atentado contra a democracia. Assim Trump deixa a presidência: pondo dúvidas sobre as eleições e supostamente tendo sido o mandante da invasão ao congresso americano. Em 20 de janeiro de 2020, de saída da Casa Branca, afirmava que de alguma forma iria voltar.

O ocorrido de 6 de janeiro acabou abrindo um inquérito no parlamento americano para investigar o caso com mais cautela. Hoje, os parlamentares buscam verificar se Trump sabia que havia manifestantes armados no ato e se foi ele quem diretamente incitou seus apoiadores à invadirem o Capitólio. Caso comprovada essas suspeitas, o mesmo teria seus direitos políticos cassados e não iria concorrer nas eleições de 2024, como pretende.

Até o momento, mais de 800 pessoas já foram processadas criminalmente com o inquérito, com acusações que vão de transgressão de contravenção à conspiração sediciosa, conforme veiculou o The New York Times. Todavia, não havia nenhuma prova contundente que colocava Trump contra as paredes, até que Cassidy Hutchinson, ex-assessora da Casa Branca, foi convocada a depor. Sérias acusações foram feitas contra Donald Trump ao comitê seleto da câmara.

Conforme o relato de Hutchinson, três dias antes da invasão ao Capitólio, Pat Cipollone, um dos advogados da Casa Branca, disse a ela que estava preocupado após saber que Trump planejava marchar com seus apoiadores ao Capitólio. “Vamos ser acusados de todos os crimes imagináveis”, teria dito Cipollone. Com essa informação, o inquérito ganhou novos horizontes. Se o relato for verídico, Trump tinha premeditado a invasão.

Um ex-promotor federal, Daniel Goldman, disse que até a colheita do depoimento de Hutchinson o inquérito ainda não tinha “provas de que ele [Trump] sabia sobre a violência (…). O testemunho deixou muito claro que ele não apenas estava totalmente ciente da ameaça, mas queria que pessoas armadas marchassem para o Capitólio. Ele estava mesmo disposto à lidera-los”.

Mesmo com todos os avanços, ao contrário do que os Democratas acreditavam, o inquérito não afetou de forma considerável a popularidade do ex-presidente. Conforme dito pela Crusoé, a porcentagem de adeptos ao partido republicano que acreditam que a invasão de 6 de janeiro foi uma ameaça à democracia subiu de 10% para 12%, apenas. Um cientista político norte-americano, Martin Geoffrey Cohen, disse que “milhões de seguidores [de Trump] não estão prestando atenção às audiências da comissão, que eles consideram partidárias e injustas”.

Dessa forma, é muito provável que em 2024 Trump seja candidato, mesmo com um inquérito que procura incessantemente culpá-lo e impedi-lo de concorrer. Para uma eventual cassação de seus direitos políticos, precisaria de dois terços de um Senado em que 50% é republicano, ou seja, é praticamente inviável. De acordo com New York Times, em uma pesquisa eleitoral, 49% dos entrevistados preferem Donald Trump à Ron DeSanctis, governador da Flórida e um eventual nome que poderia tomar o lugar de Trump na chapa republicana para as eleições presidenciais. A mesma pesquisa diz que Biden possui uma aprovação de apenas 31%, menor do que a pior aprovação pela qual Trump tinha passado em 2017, de 33%. Portanto, o cenário que se desenha é Trump e Biden disputando novamente.

Em julho de 26, Trump voltou a Washington pela primeira vez e discursou em um hotel durante um evento promovido por uma entidade que o apoia, America First Policy Institute. No discurso que durou mais de uma hora e meia, o ex-presidente voltou a dizer que houve fraude nas eleições e que ganhou em 2016 e em 2020. Também criticou a administração de Joe Biden: “Nosso País foi colocado de joelhos, literalmente de joelhos. Quem teria pensado? (…) Nunca tivemos nada parecido com o que está acontecendo agora”. “Nesse novembro, o povo votará para impedir a destruição de nosso país e votará para resgatar o futuro dos EUA. Estou aqui para começar a falar sobre o que devemos fazer para alcançar esse futuro quando tivermos uma vitória triunfante em 2022 e quando um presidente republicano conseguir a Casa Branca de volta em 2024, o que eu realmente acho que acontecerá”, disse Trump sem confirmar se vai concorrer novamente. Um forte discurso que poderá ser útil à Trump em 2024 – e que já foi testado por ele em 2016 – é o de combater os privilégios e a burocracia; ser contra o establishment. “O discurso contra o establishment provavelmente seguirá poderoso. O atual presidente tem circulado pela capital há décadas. Além disso, muitos dos candidatos que Trump derrotou no passado, sejam republicanos ou democratas como Hillary Clinton, foram prejudicados por suas relações com o establishment”, disse Geoffrey.

Outro cientista político americano, David Karol, em entrevista à Crusoé, também afirmou que “Trump pode derrotar Biden em 2024, caso encontre as condições certas. Se os Estados Unidos ainda estiverem enfrentando uma inflação alta ou uma recessão, ele pode vencer em uma disputa acirrada”. Trump continua vivo e, ao que tudo indica, irá retornar mais forte do que nunca para as disputas eleitorais. Todas as conspirações que ele vem sofrendo desde sua entrada na política em 2016 mostram não surtir efeito.  Dependendo das condições econômicas e sociais, em 2024 será Trump por mais quatro anos novamente. Veremos.

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