Certa feita recebi a escassa visita de uma pessoa cuja identidade prefiro omitir. Na ocasião, invadindo meu quarto, a mesma começou a analisar os livros que sobre a mesa repousavam. Um por um, dividia-os entre aqueles cujos autores eram de esquerda e aqueles cujos autores eram de direita.
– Esses autores de esquerda… perda de tempo. Quando você for comprar livros procure pesquisar sobre o autor, os de esquerda, descarte-os. Não os leia.
Não sou de discussão. Fiquei quieto, por respeito. Esse episódio há muito tempo me vem martelando a cabeça. Em primeiro lugar por que não cabe ninguém há dar palpite de como o outro deva comprar seus livros, gosto cada um tem o seu. Em segundo, por que diabos hei de comprar livros de uma única corrente ideológica?! Para não ser “doutrinado”?! Sim, amigo, há muitos que utilizam essa narrativa, “não ser doutrinado”. Prezados, todos hão de convir que uma pessoa que, ao ler um livro, não consegue “separar o joio do trigo” de acordo com sua interpretação, é um analfabeto funcional. Não estou exagerando. Se uma pessoa diz que, pelo simples fato de ler um escrito de cuja ideia seja contrária, já será doutrinada, essa pessoa deveras tem sérios problemas cognitivos e emocionais.
Isso não ocorre só com os livros, muitos jornais são rechaçados por serem “doutrinadores”. Reitero: se uma pessoa não consegue ler uma coluna – por exemplo – por que será “doutrinada”, essa pessoa tem analfabetismo funcional, não tem senso crítico. Dever-nos-emos ler os jornais, vários se necessários, e absorvemos aquilo não que seja conveniente, mas aquilo que seja verdade, pois a verdade na maioria das vezes é inconveniente. Não sejamos cavalos, com todo respeito da colocação. Cavalo tem seus olhos parcialmente vendados ao horizonte. A pessoa que é leitora somente daquilo que lhe for conveniente e não abrir espaço ao contraditório, isto é, a autores diversos, ela se assemelha a um cavalo. Seu horizonte é limitado, sua liberdade também será. Meço o grau de liberdade de alguém pela densidade de conhecimento que possui. Como podemos gozar da plenitude da liberdade se meu horizonte é reduzido, se eu não enxergo as coisas em sua totalidade?!
A pessoa sem conhecimento – e consequentemente sem liberdade – pode ser facilmente manipulada, quer seja nas redes sociais, quer seja por amigos ou parentes próximos, aceitando tudo o que deles advir. Um exemplo: num grupo de WhatsApp você recebe a mensagem de que o Presidente é a pessoa mais honesta da história da República. Há dois tipos de pessoas que hão de ler essa mesma mensagem: (1) aquelas que se informam e, consequentemente, possuem conhecimento; (2) aquelas que não se informam e, consequentemente, não possuem conhecimento. No primeiro caso, as pessoas bem informadas e com certa densidade de conhecimento, facilmente reconhecerão a improcedência do que foi veiculado. No segundo caso, as pessoas sem informações e sem conhecimento – ilustre caso dos tiozões do zap – facilmente irão confiar no que foi dito, pois, na falta de conhecimento, imperará as emoções. Assim, elas relacionarão o substantivo “Presidente” como algo bom, serão remetidas a alguma experiência passada que foi boa, que mexeu com seu emocional de forma positiva, consentido com a publicação feita. Destarte, não há que se falar em liberdade no segundo caso, não tendo elas uma visão mais ampla do horizonte, deixando-se levar pelas emoções.
Conhecimento é liberdade, e o recíproco também é verdade. E a pessoa que tem conhecimento, por mais que esteja atrás das grades, livre estás. A falta de conhecimento é um grande problema pelo qual estamos passando no Brasil, por isso a necessidade da população em buscar políticos de “estimação”. Lembre-se: na falta de conhecimento, imperará as emoções. Não me furtarei de ler livros de centenas de autores diferentes. Para ter uma opinião própria, deve-se ter liberdade, e para ter liberdade… o resto você já sabe.
Que busquemos a liberdade, que só será alcançada por meio do conhecimento.
Por Leone Oliveira